domingo, 8 de agosto de 2010

II Encontro de Pessoas vivendo com HIV/AIDS de Bebedouro


Evento uni lições de vida e arte para mostrar que é possível viver com a doença

Fechar-se em casa para se proteger de todo o tipo de preconceito perante a sociedade não é a melhor forma de conviver com a AIDS. Foi o que mostrou o II Encontro de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS de Bebedouro que reuniu cidades de várias regiões do estado de São Paulo.

“Mesmo tendo a sorologia positiva, é possível aceitar essa condição e a necessidade do tratamento e, a partir daí, enfrentar os obstáculos. A sorologia não nos anula da sociedade. Devemos mostrar que, independente disso, somos cidadãos, pagamos nossos impostos e temos sim condições de contribuir para o crescimento do país”, argumenta um dos palestrantes, José Marcos de Oliveira, coordenador e conselheiro do Conselho Nacional de Saúde.

Renata Soares de Souza, também palestrante do evento, veio da cidade de Presidente Prudente, para deixar aos colegas a mensagem de que todos têm um potencial. “As pessoas que convivem com o HIV precisam descobrir suas potencialidades e aptidões para que possam se aperfeiçoar e voltar ao mercado de trabalho”, diz.

TEATRO COMO MENSAGEM

O Ponto de Cultura ELITE – Escola Livre de Teatro de Jales, convidado a participar do evento com dois espetáculos “Auto da Camisinha” e “Diário de Meninos e Sonhos”, deixou a mensagem por meio da arte.

A primeira apresentação ensina a relevância de se prevenir das DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) com o uso da camisinha na comédia de um casal que marca a primeira relação. Já o segundo, emocionou o público que se identificou com a história de duas crianças, Daniel e Letícia, um menino soropositivo e uma menina de soronegativo que constroem uma bonita amizade, livre de preconceitos. A peça mostra o medo das pessoas em dizer que tem a doença, a falta de informação, como é possível conviver com isso e a importância da solidariedade.

“A forma artística para lidar com esse tema é muito válida. É ótima a mensagem deixada em uma linguagem simples. Recomendo a todos assistirem a esses espetáculos”, conta a palestrante Renata.

O elenco é formado por cinco atores: Clayton Campos, Carlos Mello, Raimundo Nonato e Viviane Fernandes. Para a produtora do grupo, Lisandra Campos, presidente do Conselho de Saúde de Jales, o evento também é interessante para os atores. “A participação deles é significante para que possam compreender ainda mais a doença, conhecer diferentes pessoas que convivem com ela, entender melhor seus sentimentos e os obstáculos que enfrentam”, ressalta.

LIÇÃO DE VIDA

Também foi levantado pelos palestrantes e até pelos participantes do Encontro que convivem diariamente com a doença, que vencer os desafios da vida é difícil para todos, mas para quem é infectado pelo vírus HIV, é preciso ter ainda mais coragem.
Exemplos de superação não faltaram para incentivar aqueles que, há pouco tempo, descobriram a sorologia positiva. Albertino Rodrigues Barbosa, 53, de Barretos, soropositivo há 15 anos, explica como a doença se tornou uma benção em sua vida porque lhe ensinou a viver, conviver com as pessoas e respeitá-las.

“No começo foi muito difícil. Eu me sentia um coitado, deprimido e inútil. Aos poucos descobri que não era nada daquilo, pelo contrário, eu era um ser humano e cidadão como qualquer outro. Engajei-me em um movimento de AIDS há 10 anos, que fez com que eu enxergasse o mundo de outra maneira. Com a AIDS eu perdi uma vista, mas ganhei o mundo que enxergo com mais clareza”, expõe Albertino

Ricardo Thonaz Silva, 41, de Bebedouro, enumerou diversas dificuldades familiares e de saúde por que passou depois de descobrir sua sorologia e hoje pode ser considerado um vencedor. “Eu estou bem, tenho uma pessoa ao meu lado que me faz muito feliz e que tem a mesma sorologia que a minha”, diz com muita satisfação.

A mesma garra e vontade de viver são demonstradas por Claúdia Pereira Alves da Silva, 40 anos, de Bebedouro, mãe de três filhos, que descobriu há 12 anos que é soropositivo. Após passar por diversas crises de depressão e aceitação consegui superar.

“Mato um leão por dia. Tive uma falha terapêutica e hoje preciso tomar seis medicamentos pela manhã, dois no almoço e seis no jantar e isso não me impede de viver, namorar, ser feliz. O HIV não tem a cara de pessoas doentes e magras como antes, ninguém percebe que eu tenho a doença se eu não falar. O preconceito é grande, primeiro temos que nos amar para que, em seguida, possamos ser aceitos”, aconselha Claudia.
FONTE: INTERAÇÃO CULTURAL - VIVIANE FERNANDES

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